No prefácio de AS PALAVRAS E AS COISAS, Michel Foucault cita
“uma certa enciclopédia chinesa” onde será escrito que “os animais se dividem em:
a) pertencentes ao imperador,
b) embalsamados,
c) domesticados,
d) leitões,
e) sereias,
f) fabulosos,
g) cães em liberdade,
h) incluídos na presente classificação,
i) que se agitam como loucos,
j) inumeráveis,
k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo,
l) et cetera,
m) que acabam de quebrar a bilha,
n) que de longe parecem moscas”.
"No deslumbramento dessa taxinomia, o que de súbito atingimos, o que, graças ao apólogo, nos é indicado como o encanto exótico de um outro pensamento, é o limite do nosso: a impossibilidade patente de pensar isso".
terça-feira, outubro 01, 2019
segunda-feira, setembro 30, 2019
VIRTUDES E PECADOS DA LIDERANÇA
Aqui
e agora, nos é dada a chance de ressignificar nosso passado, transformar nossa
visão de mundo e de nós mesmos, bem como de construir o futuro que queremos.
Aqui e agora, o presente se plasma sempiternamente, como resultado de nossas
ações. Nós criamos a nossa realidade. Entre imaginação e memória, aqui e agora
temos a oportunidade de inspirar novos sonhos e fazer nascer a esperança, a
criatividade e o espírito de cooperação entre todos. Melhor dizendo, mais que
chance ou oportunidade, temos uma missão transformadora que exige a revelação
da grandeza espiritual de cada um de nós.
O
espírito da liderança tem, portanto, o poder e o dever de despertar os talentos
e de fazer com que se manifeste o dom supremo que trazemos conosco. Realiza
este poder, não por meio do controle, das ordens e coerções, mas sim, pela
força do pensamento e do diálogo, do convencimento e da confiança. Para tanto,
explicita os princípios e valores que norteiam o desenvolvimento de suas
virtudes.
Imbuídos
deste espírito, partimos do princípio de que temos o poder de modificar a
natureza e de que este poder deve ser usado para promover a dignidade, a
plenitude e paz entre os seres. Dignidade, plenitude e paz são valores
compartilhados por todos, mas difíceis de serem cultivados sem as virtudes da
disciplina, honestidade, senso de justiça e responsabilidade.
É
primeiramente em nós mesmos que devemos cultivar o desenvolvimento de tais
virtudes. Se desejamos nos tornar pessoas altamente colaborativas e
comprometidas com realizações sociais, havemos de enfrentar nossos vícios.
Os
alquimistas cristãos falavam de transmutar o chumbo em ouro. No plano simbólico,
isto significa, em termos atuais, a transmutação de uma personalidade
destrutiva e manipuladora em uma personalidade criativa e colaborativa. Este
trabalho alquímico, “Magnum Opus”, significa o desvelamento do nosso tesouro
interior, ou seja, nosso ser de luz, que é a essência de si-mesmo. Não é uma
tarefa fácil. Habitualmente, a iluminação e a bondade só são conquistadas por
firme disposição para fazer o bem e para inspirar os que encontramos no
caminho.
Mas
somos, a miúde, tentados pelo orgulho, pela arrogância e presunção que nos
impede de ouvir os outros e que nos guia sempre à procura de elogios e
seguidores. É preciso certo esforço para conquistar a humildade, a consciência
de que não sabemos tudo e de que precisamos dos outros para nosso crescimento. Note-se
que isto não significa se desvalorizar, perder seu brilho e sua autoridade...
É
sempre necessário muito trabalho, autoconhecimento e autoestima para nos
alegrarmos com a riqueza e com as qualidades nossas e do próximo. Sem este
trabalho, somos facilmente dominados pelas emoções desordenadas e violentas da
ira, da raiva e do ódio, que buscarão impacientemente destruir e aniquilar o
outro, esse desconhecido.
Serenidade,
compreensão e paciência são atributos raros e caros à convivência pacífica
entre nós. Impaciência, incompreensão e insatisfação conduzem ao medo, ao
consumismo e à luxúria de possuir gulosamente tudo e todos.
Quem
de nós está completamente livre do apego ao poder, aos bens, à riqueza
ambiciosa e muitas vezes ilícita de acumular, de forma mesquinha, dinheiro,
joias, propriedades e conhecimento? Não é sem exercício de desprendimento que nos
tornaremos verdadeiramente generosos.
Só podemos,
verdadeiramente, liderar a nós mesmos nesta jornada interior. Para tanto,
precisamos diligentemente combater a preguiça, a procrastinação e o comodismo.
Precisamos ser pacientes, justos e perseverantes, enfim.
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